VIOLÊNCIA CONTRA OS LGBT+: UMA HISTÓRIA BRASILEIRA NÃO CONTADA
Por José Paulo Fiks
Renan Quinalha é advogado, sociólogo e professor do Depto de Direito da UNIFESP, mas certamente seu campo de pesquisa favorito é o da história. Especificamente da memória da perseguição contra a comunidade LGBT+ brasileira no período da ditadura militar (1964-84).
Em seu livro recentemente publicado, Contra a moral e os bons costumes: a ditadura e a repressão à comunidade LGBT da coleção Arquivos da Repressão no Brasil dirigida pela historiadora Heloisa Starling (Ed Cia das Letras), Quinalha traz os resultados de sua ampla pesquisa dos arquivos da ditadura trazidos à tona pela Comissão da Verdade, da qual participou como consultor.
Suas conclusões são impactantes: muito além das implicações políticas da repressão deste período houve uma agenda de costumes que simplesmente tentou destruir através da censura, coerção policial ou com a perseguição pelo aparato extraoficial de estado vários membros e publicações da comunidade LGBT+ no Brasil.
A homossexualidade foi considerada uma grande ameaça pelos “gestores” ideológicos desse obscuro período. Encontros políticos e até mesmo as mais insuspeitas festas para pura diversão foram consideradas subversivas.
Mas o autor também se debruça sobre os movimentos de resistência e resiliência desta comunidade. Desde indivíduos pioneiros como o ator Celso Curi até a organização de associações como o Núcleo de Ações pelos Direitos dos Homossexuais e publicações que tiveram alta tiragem como o jornal Lampião da Esquina foram corajosas em suas denúncias na época e tentativas de mostrar força contra a repressão oficial por parte do estado brasileiro.
Todo esse material colecionado por Renan Quinalha merece o olhar da saúde mental pelo aspecto da violência e do trauma. Quantos desses cidadãos, familiares e amigos foram impactados por esses eventos nebulosos e desenvolveram quadros psiquiátricos com transtornos de ansiedade, depressão e Transtorno de Estresse Pós-Traumáticos?
A conquista de direitos e garantias para a comunidade LGBT+ brasileira desde a constituição de 1988 e as atualizações dessas desde então não garantem que as memórias traumáticas sejam extintas sem um resquício de dano patológico.