TRAUMA TRIGGER: GATILHOS PARA EXPERIÊNCIAS TRAUMÁTICAS

By 3 de fevereiro de 2022 TEPT

TRAUMA TRIGGER: GATILHOS PARA EXPERIÊNCIAS TRAUMÁTICAS

Por José Paulo Fiks

Obras artísticas podem causar lembranças de experiências traumáticas? Filmes, seriados e fatos jornalísticos podem ser novamente traumatizantes? Situações tão corriqueiras como essas têm sido questionadas por especialistas e indivíduos que passam pela experiência sensorial com respectivo impacto psicológico e que deflagra ou relembra um trauma psíquico.

Algumas exposições artísticas têm sido canceladas pela exibição de imagens ou representações consideradas como perigosas para estímulos traumáticos. Recentemente a série da Amazon Prime Video Them foi duramente criticada pela exposição de personagens negros a cenas de exacerbada crueldade. Discutiu-se se esses episódios poderiam provocar uma experiência traumática em seus espectadores, especialmente pelo chamado “racismo estrutural” na história norte-americana.

O Trauma Trigger (gatilho para um trauma) habitualmente parte de um estímulo sensorial que provoca uma experiência psicológica e estimula a lembrança de uma experiência traumática anterior. A vivência não precisa ser assustadora ou ela mesma traumática. Os disparos podem ser subliminares, imperceptíveis, mas extremamente poderosos como gatilhos traumáticos. Isto é variado, subjetivo, depende da estrutura pessoal e do nível da experiência traumática anterior.

Uma das formas encontradas por especialista – e cada vez mais adotadas, como na série da Netflix 13 razões – é uma espécie de aviso para um conteúdo potencialmente traumático, um alerta para os tais potenciais gatilhos. Isso geralmente se refere a imagens de violência e especialmente o suicídio. Esse hábito se torna cada vez mais comum em filmes, seriados, jogos e noticiários, todos estes cada vez mais acessíveis à população, sobretudo pela facilidade com que o streaming passou a fazer parte de nossas vidas. E praticamente tudo é disponível por esta via.

Alguns estudiosos acreditam que o aviso para cenas potencialmente perturbadoras não ajudaria muito, pelo contrário, poderia aguçar circuitos de medo e reações de ansiedade, até mesmo antes de uma cena vista. Outros acreditam através de achados de pesquisa que a exposição a cenas que lembrem situações traumáticas em produtos culturais possam ser uma espécie de “vacina” para o psiquismo, uma estratégia saudável de enfrentamento pela imersão sensorial. A aproximação possível é que alguns tutoriais já consagrados para o tratamento do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) envolvem o enfrentamento de cenas, lembranças traumáticas. Mas, insistimos, isto deve ser feito em ambiente terapêutico, protegido.

O fato é que se trata de matéria para enorme debate, sem conclusões efetivas, mas certamente um convite para a reflexão de espectadores, cuidadores, terapeutas e pesquisadores na área do TEPT e a sua articulação com a cultura.