QUANDO UM EVENTO É TRAUMÁTICO?

By 12 de julho de 2021 julho 13th, 2021 TEPT

QUANDO UM EVENTO É TRAUMÁTICO?

O diagnóstico do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) tem como base um fator fundamental, o chamado “Critério A”: um evento traumático.

Eventos são acontecimentos em nossas vidas que classificamos articulando diversas informações sobre ele: como percebemos a vivência, como esta nos afeta, como comparamos com acontecimentos passados e como a julgamos, ou seja, como estas experiências nos modificam.

O trauma não é o evento. Trauma é o que acontece depois de um determinado evento que, segundo o critério fundamental para o TEPT deve ser algo que experienciamos como uma vivência próxima ao perigo de morte.

Um trauma é a fratura do eu, ou do self, palavra de língua inglesa que pode ser entendida como a forma que nos reconhecemos no mundo. O conceito de self abrange nossa consciência da linha de vida como algo contínuo e que tem um sentido que reconhecemos quando somos convocados para dar alguma opinião, julgar desde um mínimo acontecimento pelo qual passamos até experiências mais complexas. A consciência pode ser entendida como uma espécie de “torre de controle” em que organizamos as informações recebidas e encaminhamos para nossos “sensores”. No trauma isto fica impossível.

Se não é tão fácil entender como funcionamos, fica um pouco mais fácil entender quando rompemos como self. E isto acontece com o trauma. Depois de uma experiência em que o resultado é traumático percebemos como se alguma coisa estivesse rompida dentro de nós. Algo mudou em como nos entendíamos até então. Somos invadidos por memórias assustadoras, ficamos em permanente alerta, isolados e muitas vezes depressivos. Também podem acorrer sentimentos como culpa ou vergonha.

As estatísticas mostram que, ao contrário do que parece, a maioria das pessoas não fica traumatizada após uma experiência com grande risco de morte. Pode haver algum abalo inicial, até um quadro agudo e transitório, mas a maioria absorve aos poucos a experiência e vai se recuperando, muitas vezes mais fortalecido com a vivência.

No trauma que se manifesta como TEPT algo fica rompido, esfacelado, a pessoa não se reconhece mais, algo parece perdido para sempre. Por este motivo pessoas que passam por experiências com grande potencial traumático devem ser monitoradas, acompanhadas e, se possível, por especialistas. Indivíduos que passaram por evento potencialmente traumáticos devem ser orientadas para procurarem ajuda por profissionais da saúde mental para que o TEPT possa ser evitado ou, se já instalado, devidamente tratado.

José Paulo Fiks.