OS MILITARES E AS MULHERES

By 5 de agosto de 2021 TEPT

OS MILITARES E AS MULHERES

A psiquiatra norte-americana Judith Herman é conhecida por sua contribuição para a definição do chamado Transtorno de Estresse Pós-Traumático Complexo (TEPT-C). Esta clínica e pesquisadora propõe que o TEPT deva ser entendido de duas maneiras:  a partir de eventos traumáticos únicos e de curta duração ou a partir daquelas vivências repetidas e prolongadas, que desencadeariam quadros mais graves e cronificantes. Ao segundo grupo chamou de TEPT Complexo. Situações específicas como vivências traumáticas na infância ou em ambientes domésticos são valorizadas por Herman para a formulação do diagnóstico mais apropriado, indicando projetos terapêuticos específicos.

Trauma e recuperação, tradução de Trauma and Recovery é o título de seu livro mais conhecido (relançado como forma revista em 2015), ainda inédito no Brasil e já um clássico da psiquiatria. Aqui Herman apresenta uma teoria bastante curiosa sobre a origem história da descrição dos traumas psíquicos. A pesquisadora retoma a teoria traumática de Sigmund Freud para defender que a Histeria descrita como uma “doença feminina” já era um tipo de TEPT. E o fator traumático mais evidente seria a repressão sofrida pelas mulheres nas sociedades europeias.

Foi somente na situação de guerra – especialmente a do Vietnã na década de 1960 – que o trauma de origem psíquica passou a ser estudado largamente a partir de eventos advindos de uma coerção. Aqui, numa situação em que os soldados eram obrigados a servir à pátria sem questionamentos e atirados em um conflito em que nada entendiam e também não podiam perguntar. Novamente a ideia da vivência do horror é atrelada à repressão.

Com as lutas das feministas, o reconhecimento de direitos das mulheres através de novas leis e o olhar da saúde mental para situações de violência doméstica, o tema da repressão voltou à tona como origem dos quadros de TEPT. Assim, a clínica e a pesquisa no campo do TEPT voltaram a valorizar devidamente uma situação ainda frequente na maior parte do planeta: a vulnerabilidade das mulheres para quadros traumáticos em ambientes de abusos de todos os tipos e, ainda, a violência física.

José Paulo Fiks.