LANGUISHING

By 6 de outubro de 2021 TEPT

LANGUISHING

Em conversas, percebo um sentimento comum de paralisia ou uma incerteza de por onde seguir. Como se estivéssemos andando num terreno não tão desconhecido, mas em meio a um espesso nevoeiro, que nos leva a andar muito lentamente, quase tateando, com medo de uma queda. Em artigo o psicólogo Adam Grant no New York Times descreve algo semelhante, “que não era burnout porque tinham energia, não era depressão, porque tinham esperança, mas um sentimento sem alegria e sem rumo”, que em Português seria a sensação de estar definhando (“languishing”). “Definhar é uma sensação de estagnação e vazio. Parece que você está mexendo em seus dias, olhando para sua vida através de um para-brisas nebuloso. ”

No início tivemos medo, nossos cérebros ligaram o alarme, “aprendemos” (aqui nem todos) a nos defender: a usar máscaras e fazer a limpeza das mãos e com isto todos desenvolvemos rotinas que nos aliviaram a sensação de pavor. Tudo parecia melhorar, acreditávamos que a pandemia se resolveria, as coisas voltariam ao normal.

Alguns tentaram nos convencer que deveríamos voltar a tudo como era antes, festas, reuniões, dito e feito, as pessoas acreditaram, e veio a segunda onda fortíssima, mais restrições, muitas mortes, economia em frangalhos. Da expectativa e esperança no retorno à normalidade, vieram a decepção, a incredulidade e acima disto a percepção de incapacidade de ação. Ação com relação a pandemia, mas também com relação a inabilidade de todos, incluindo nossos governantes, em dialogar para uma ação em uníssono. Esta perda de uma visão prospectiva, que turva nosso horizonte mental, pode criar esta sensação de definhamento.

O ser humano se diferencia por imaginar, vemos um futuro, e dependendo deste futuro, criamos motivações e planejamos ações. No estado de turvação, vivemos no automático, mas sem uma perspectiva. A visão do futuro, é importante realçar, é sempre uma suposição, já que existe somente na nossa mente. Se o futuro foi aquilo que projetamos, já é outra história. Sobre o futuro está nossa motivação, para seguirmos em frente precisamos de otimismo e credulidade em nossas possibilidades.

Este artigo de Adam é importante, pois o primeiro passo para superarmos estes entraves mentais se dá pelo reconhecimento e a nomeação do mal-estar. Se entendo que posso estar definhando, e como isto afeta meus sonhos e ações, posso pensar em estratégias para mudar. O reconhecimento muda nossa perspectiva, o conhecimento traz luz as trevas da ignorância.

O autor propõe um antídoto: o fluxo. Fluxo é aquele estado em que estamos absortos numa tarefa, num desafio, ou num vínculo momentâneo, no qual o senso de tempo e espaço se esvanecem. Um preditor de bem-estar no início da pandemia estava naqueles que conseguiram imergir em seus projetos, e mantiveram suas energias. O fluxo seria uma introspecção tendo nós mesmos como projetos.

Um caminho seria o resgate de nossos projetos pessoais, na procura de crescimento emocional, ou intelectual, físico ou empático. Não importa quais ou quantos, mas sim uma procura honesta de um crescimento, para que hajam reais mudanças. Nestes momentos onde o externo é turvo, precisamos então ampliar nossas capacidades de percepção, e sempre para isto temos que progredir, nos conhecermos. A motivação vamos ter que encontrar em nós mesmos.

Definhar não está apenas em nossas cabeças – está também em nossas circunstâncias.

Marcelo Feijó