EU VOU TOMAR REMÉDIO PARA SEMPRE?

By 6 de julho de 2022 TEPT

EU VOU TOMAR REMÉDIO PARA SEMPRE?

Por Marcelo Feijó de Mello

Está é uma preocupação de todos os pacientes. Na prática fora os quadros agudos, sejam infeciosos ou traumáticos, a grande maioria das condições tratadas no cotidiano são crônicas. Existem tratamentos, mas não existe sempre uma cura, a maior parte dos tratamentos devem ser contínuos para evitar a recaídas e evitar ou retardar as consequências e o sofrimento causados pela doença. É assim, para a hipertensão arterial, diabetes mellitus, asma, artroses, artrites, insuficiências cardíacas, enfisema, AIDS, vários tipos de câncer, e muitos em transtornos mentais.

Tomar medicamentos diariamente leva muitas vezes a um grande abandono do tratamento, seja por uma negação ou revolta frente aos seus diagnósticos. Aliado ao abandono dos tratamentos, existe o negacionismo da ciência. A Medicina é combatida arduamente por alguns. Existem acusações de interesses financeiros dos médicos, como se a medicina fosse uma subsidiaria da indústria farmacêutica. Contudo a medicina é milenar, muito anterior a qualquer menção a palavra capitalismo ou indústria farmacêutica.

Outros afirmam que o abandono da vida natural estaria na origem das doenças, sendo que o retorno à natureza levaria a cura. Os medicamentos e as vacinas seriam antinaturais. Um argumento frágil quando vemos que os avanços da medicina aumentaram globalmente em muito a expectativa de vida da população.

Os medicamentos psiquiátricos são particularmente criticados, indevidamente relacionados a dependência, a sedação ou a ineficácia. Em muito as críticas à psiquiatria estariam relacionadas a um estigma com relação as doenças mentais. Como se elas não existissem, e que seriam uma invenção com fins de controle e ganhos financeiros. Críticas também frágeis e de difícil defesa.

Estas posições negacionistas aumentam os problemas de adesão, levando ao maior problema dos transtornos mentais, que é a falta de tratamento adequado para grande número de pessoas. A maior parte dos portadores de transtornos mentais melhorariam muito com os tratamentos. Suas ações permitem o equilíbrio e diminuição da gravidade dos sintomas. Estudos indicam que estas medicações devem ser mantida por períodos de tempos, mesmo após a eliminação dos sintomas, por vezes até continuamente, caso contrário, as chances de retorno dos sintomas são enormes.

Então a resposta a pergunta depende de cada caso, mas devemos nos basear nos dados científicos que temos atualmente. O médico e o paciente devem sempre discutir todas as etapas do tratamento, seus riscos, custos e benefícios. As decisões sobre o uso ou suspensão dos tratamentos são sempre conjuntos. Alguns pacientes precisarão da medicação por tempo indeterminado. Para sempre, ninguém poderia afirmar, pois não podemos prever novos achados, mudanças, inovações ou possibilidades. Procuro sempre manter esperanças, quando ainda temos esta possibilidade, mas mantendo o pé na realidade, e não iludir, ou nos iludir, com aquilo que não sabemos.