Dissociação peritraumática

By 21 de setembro de 2022 TEPT

Dissociação peritraumática

Algumas pessoas apresentam reações anormais em situações extremas de medo e risco de vida, que incluem a dissociação peri-traumática (DPT) e a imobilidade tônica (IT). A IT leva a uma paralisação muscular completa, levando a imobilidade nestas situações. Alguns animais apresentam este comportamento de congelamento ou “fingir de morto”, quando é impossível escapar do predador. São reações de sobrevivência que foram desenvolvidas durante a evolução. A DPT por sua vez, estudada somente em humanos, envolve uma reação complexa ao trauma, com descolamento da realidade, com sintomas de desrealização e despersonalização, que teriam a função evitar o sofrimento emocional intenso, assim como diminuir a dor física. Ambas são reações que acontecem no momento do trauma.

Avaliamos a presença destas respostas, no momento do trauma, em 86 mulheres que desenvolveram o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) severo após um estupro. As mulheres apresentaram altos escores de DPT e 72,4% apresentaram IT no momento da violência. A presença de DPT foi um preditor de um quadro de TEPT mais grave, com mais sintomas depressivos e de ansiedade. Nosso estudo mostrou também que as mulheres que tinham histórias de abuso sexual e físico durante a infância tinham mais chances de ter uma DPT mais grave, assim como as que eram mais novas e tinham menos anos de estudo.

A presença de DPT provavelmente leva a memórias fragmentadas que podem dificultar o processamento psicológico, para que haja uma elaboração da vivência traumática. Ainda é possível que as mulheres que tenham propensão a esta resposta tenham uma resposta emocional mais intensa, que também prejudicaria este processamento, levando a quadros mais graves e com pior respostas aos tratamentos. Importante na realidade é que estas reações sejam de conhecimento dos profissionais que atendem vítimas de violências para que entendam que são reações de sobrevivência e que de forma alguma possam sugerir uma intencionalidade durante o ato. As pessoas que passam por estas situações precisam ser acolhidas e cuidadas, atitudes que possam sugerir julgamentos são muito ruins para sua evolução.

Link para acessar o artigo: https://www.provepsico.com.br/wp-content/uploads/2022/09/deMello-Peritraumatic-2022.pdf