CULPA E VERGONHA PÓS-TRAUMA

By 12 de agosto de 2021 TEPT

CULPA E VERGONHA PÓS-TRAUMA

Logo após a criação do diagnóstico de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), uma série de pesquisadores se debruçou sobre o estudo dos afetos (emoções e sentimentos) que envolvem uma situação pós-traumática, especificamente em quadros de TEPT.

Dois deles se destacam e têm sido estudados como parte do chamado “circuito da moral”, uma organização neurobiológica que envolve os afetos e seus julgamentos pela consciência. Vergonha e culpa têm se destacado como dois dos afetos mais referidos em pessoas que passaram por alguma vivência potencialmente traumática.

Aparentemente semelhantes, a culpa e a vergonha podem ser bastante diferentes em suas apresentações nos indivíduos sobreviventes e traumatizados. Esta diferenciação é fundamental para o diagnóstico e também para um projeto de tratamento, especialmente o de psicoterapia. E isto serve tanto para uma intervenção imediata após o evento, portanto de prevenção do TEPT, mas também para quando este já está instalado.

A vergonha envolve a ideia de refúgio por uma percepção de perda de status social. E isto se dá pela constatação, muitas vezes imaginária, que os cuidados apropriados não foram tomados para prevenir a ameaça ou ato traumático. Este sentimento é ligado ao estranho desconforto de ter escapado. É a chamada “culpa do sobrevivente”.

De forma diferente, a culpa envolve uma elaboração de reparação por um sentimento de carga negativa em decorrência do evento traumático, que não consegue ser integrada de forma saudável à memória. E aqui também há o problema do estigma, do julgamento dos outros que eventualmente cobram a responsabilidade do indivíduo por ter passado pela experiência traumática. Muitas vezes a culpa está relacionada ao testemunho de outros sobre o comportamento de determinado indivíduo durante um evento traumático.

A abordagem psicoterápica para esses dois sentimentos envolvem um projeto de um questionamento ativo sobre posturas tomadas como decorrência desses afetos. Também é muito importante o apoio social e o devido freio nos julgamentos que se tornam torturantes para o sobrevivente de um evento traumático.

Mas é importante lembrar: vergonha e culpa devem ser trabalhados com o paciente quando este já se encontra em uma situação psicológica minimamente confortável. Indivíduos muito sintomáticos podem responder mal à proposta de abordar tais sentimentos ou até piorarem em seus quadros quando ainda não há uma estabilidade pós-traumática mínima.

José Paulo Fiks.