ABUSO DE ÁLCOOL E PANDEMIA

By 23 de março de 2022 março 24th, 2022 TEPT

ABUSO DE ÁLCOOL E PANDEMIA

Por Marcelo Feijó

Durante a pandemia do COVID-19 houve um aumento do consumo de álcool e das suas consequências. O aumento do uso álcool para lidar com o estresse decorrente da pandemia está relacionado ao aumento do número de transplantes hepáticos devido a doenças relacionadas ao uso de álcool, assim como ao aumento de visitas as emergências por síndrome de abstinência ao álcool.

Estudo recém-publicado no JAMA network (White e cols. do National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism – NIAA dos EUA) avaliou o aumento da mortalidade, em pessoas acima de 16 anos, por causas relacionadas ao álcool, no período entre 2019-2020. As mortes aumentaram em 25,5% no período (78.927 para 99.017) ao redor de 3% entre todas as causas de mortes. Um grande aumento se compararmos com as taxas pré-pandemia de 2,2% ao ano entre 1999 e 2017.

O Aumento aconteceu entre todas as idades, mas principalmente entre adultos e os jovens de 24 a 44 anos de idade. As mortes associadas a doença hepática aumentaram em 22,4%, e as relacionadas aos transtornos mentais associados ao álcool em 35,1%.

As mortes devido ao álcool refletem as consequências da 4ª onda da pandemia, com o aumento do consumo para lidar com o estresse da pandemia. São necessárias  mudanças de políticas de álcool e interrupção do acesso aos tratamentos. Preocupante por sabermos que o transtorno de uso de álcool (TUA) é uma condição crônica, que surge com uso crônico de álcool, em pessoas com uma predisposição à doença.

A questão está entre o uso (tempo e padrão de uso) e predisposição. Alguns terão o transtorno antes, e outros serão mais resilientes se o consumo for grande e crônico. A pandemia encurtou o tempo em que muitos entrariam numa faixa de beber patológico, pelo aumento da ingestão.

O declínio destes números não será tão rápido, ao sabermos que as taxas de recaída do TUA são elevadas, e a procura pelo tratamento não é elevado, a não ser quando os problemas já estão graves, refletindo em mortes, transplantes hepáticos e síndromes de abstinência, só para citarmos alguns dos problemas. A implantação de políticas públicas baseadas em evidências na área de saúde mental é urgente.

O impacto da pandemia na saúde mental reflete mudanças significativas na realidade, devidas as perdas sejam de pessoas queridas, de saúde, perdas materiais e de trabalho, que afetam diretamente o psiquismo. As doenças mentais são doenças complexas multicausais, onde o corpo e o cérebro são determinantes, porém estes são totalmente influenciados pelo ambiente e nossas culturas.

O acesso aos tratamentos deve ser estruturado em ações terapêuticas e preventivas não restritas ao ministério da saúde, mas da economia, da educação, e da cidadania para serem implantados através de políticas públicas efetivas e de longo prazo.