Negligência não é pobreza

Por Rodrigo Sinott
A negligência na infância e adolescência é a forma mais comum de maus-tratos no mundo — e também no Brasil.
Entre 2011 e 2019, foram 166 mil casos registrados, número que supera em mais de 50% as notificações de agressão física (Sartori et al., 2023). Mesmo assim, o tema ainda é subnotificado e mal compreendido.
Profissionais da saúde, assistência social e do direito enfrentam dificuldades por falta de capacitação, fragmentação entre serviços e medo de retaliações familiares após a notificação.
O estudo “O Conceito de Negligência na Infância e Adolescência para Implementação de Políticas Públicas”, do psiquiatra @dr.rodrigosinott, mostra que a negligência não é um fato isolado, mas uma falha persistente e repetida no cuidado, que pode ser física, emocional, educacional ou social.
Também lembra que a pobreza, por si só, não é motivo para abrigamento ou perda da guarda. Antes de qualquer decisão judicial, a família deve ser acompanhada pela rede de assistência social, com visitas técnicas e oportunidades reais de apoio.
Muitas famílias não negligenciam por descuido ou desinteresse, mas por falta de suporte e orientação. Por isso, cuidar das crianças é responsabilidade compartilhada entre família, comunidade e Estado.
Ampliar o debate e criar espaços de escuta é essencial para transformar a forma como cuidamos da infância e da adolescência.
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Imagens: Arquivo Próprio
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