DEPOIS DO TIROTEIO: O QUE FICA QUANDO A PÓLVORA SE DISSIPA?
Por José Paulo Fiks
A experiência de confrontos armados, tiroteios, mortes e intervenção violenta — tal como a megaoperação policial que ocorreu recentemente nos complexos da Complexo do Alemão e da Complexo da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro — configura-se como fator de risco significativo para a emergência de TEPT em diversos grupos: moradores que presenciaram os combates, familiares de vítimas, agentes de segurança e até mesmo por habitantes do Rio de Janeiro que foram expostos ao medo extremo ou à insegurança persistente.
Achados científicos recentes que articulam conhecimento clínico e contexto sociopolítico revelam que a violência institucionalizada e em larga escala pode produzir efeitos traumáticos cuja repercussão em muito ultrapassa o impacto imediato dos corpos.
Os indivíduos que vivenciam tais episódios tendem a desenvolver sintomas como flashbacks, culpa de sobrevivente, insônia e impressão de apagamento para a esperança de um futuro.
Em comunidades periféricas, já vulnerabilizadas por desigualdades históricas, a exposição a operações de letalidade elevada (taxas não vistas até então no estado) pode agravar um senso coletivo de insegurança e perpetuar um trauma intergeracional.
Por exemplo, moradores relataram ter visto corpos enfileirados nas ruas após a operação, o que pode funcionar como um signo dramático de violência estatal e extrajudicial.
Em tal cenário, o TEPT não se manifesta apenas individualmente, mas adquire dimensão comunitária, afetando o tecido social e potencialmente minando a resiliência coletiva.
Por fim, do ponto de vista das políticas públicas e da saúde coletiva, reconhecer a articulação entre operações de segurança, violência armada e saúde mental — em especial o risco aumentado de TEPT — exige que se instituam protocolos de atenção pós-traumática, para todos os envolvidos.
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Imagem: Freepik
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