Adultização

Por Luana S. Siqueira
Na última semana, o influenciador Felca gerou ampla repercussão ao trazer à discussão temas relacionados à adultização infantil e à sexualização precoce.
O episódio evidencia a urgência de refletirmos sobre os impactos dessas práticas, mostrando que se trata de um fenômeno social e cultural, que atravessa instituições, a mídia e o cotidiano das crianças, moldando suas experiências e seu desenvolvimento.
Como lembra Saffioti (2004), desde cedo crianças vivem relações de poder assimétricas no espaço familiar e social, experimentando a dominação do adulto.
Postman (2005) reforça que, culturalmente, a mídia e a lógica do consumo expõem crianças a conteúdos e responsabilidades típicos do universo adulto, borrando os limites da infância.
A infância é uma etapa única, marcada por processos cognitivos, emocionais e sociais que se constroem no ritmo próprio de cada criança.
Interromper ou distorcer esse ritmo — seja por exposição precoce a responsabilidades adultas ou por sexualização precoce — pode gerar repercussões significativas na saúde mental, incluindo vulnerabilidade a traumas e estresse.
Adultizar não é preparar para o futuro: é transferir à criança e ao adolescente dores, responsabilidades e experiências que não lhes cabem. Embora essa responsabilidade seja frequentemente atribuída apenas às famílias e às instituições que atendem crianças e adolescentes, trata-se de um fenômeno social e cultural que exige corresponsabilidade de toda a sociedade.
Adultizar não é preparar para o futuro: é transferir à criança e ao adolescente dores, responsabilidades e experiências que não lhes cabem — seja de forma explícita e inescrupulosa, como exposto recentemente pelo influenciador, seja de maneira mais naturalizada no cotidiano, por meio de pressões e responsabilidades que a infância ainda não comporta, sobrecarga emocional ou acesso indiscriminado a telas e conteúdos para os quais ainda não existem ferramentas cognitivas ou emocionais adequadas.
É nesse contexto que atua o PROVE Kids, voltado ao atendimento de crianças e adolescentes em situações de trauma e TEPT, oferecendo acolhimento, tratamento e apoio para a reconstrução de suas experiências e trajetórias.
Proteger a infância é responsabilidade coletiva — não apenas das famílias ou das instituições, mas de toda a sociedade. Só em um terreno seguro a infância pode florescer por inteiro.
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Referências:
Postman N. O desaparecimento da infância. Tradução: Suzana M. de Alencar Carvalho e José Laurentino de Melo. Rio de Janeiro: Graphia; 2005. 190 p.
SAFFIOTI, H. I. B. Gênero, patriarcado, violência. In:_____. Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Editora Expressão Popular, 2004.
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Imagens: Canva
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